Mitos e Verdades
Neste post, respondo algumas questões sobre mitos e verdades na otorrinolaringologia. As respostas são baseadas na ciência, pesquisas e experiência em consultório.
1. A criança que mama deitada tem maior chance de ter otite.
VERDADE – A tuba auditiva é uma comunicação que temos entre o nariz e o ouvido. Na criança ela é mais curta e horizontalizada. Tal fato favorece o refluxo de leite através dela, quando se mama deitado, o que pode gerar colonização e infecção do ouvido. O ideal é amamentar ou oferecer a mamadeira com o corpo do bebê inclinado de 30-45 graus em relação a horizontal, com a cabeça para cima.
2. O uso de haste flexível (cotonete) auxilia na limpeza do ouvido.
MITO – O uso da haste flexível nos ouvidos geralmente causa a introdução mais profunda do cerume em direção ao tímpano. Além de aumentar a chance de obliteração do conduto, ainda existe o grande e perigoso risco de traumatizar a membrana timpânica. Fato que costuma ser acidental podendo gerar problemas auditivos permanentes. O ideal é envolver o quinto dedo da mão, conhecido como “dedinho”, com um lenço seco delicado e introduzir no ouvido para limpeza, evitando o risco de lesões.
3. A perda da audição não tem tratamento.
MITO – Existem diversos e diferentes tipos de perda auditiva. Cabe ao otorrinolaringologista investigar, através de exames, a causa para propor o melhor tratamento existente. Este tratamento pode variar desde o uso de medicações, aparelhos de audição e até a realização de cirurgia, dependendo do caso.
4. O uso de fones de ouvido pode levar a perda de audição.
VERDADE – A P.A.I.R é a perda auditiva induzida por ruídos. Dependendo do nível sonoro e da duração de exposição aos sons e ruídos a perda de audição pode ser irreversível. O uso equivocado e abusivo dos fones de ouvido com dispositivos de áudio pode gerar a lesão da cóclea (órgão da audição) independentemente do tipo de fone (tipo intra-canal ou de concha).
5. A labirintite não tem cura.
MITO – As crises agudas de tontura com ou sem desequilíbrio, comumente chamadas de labirintite, são frequentemente decorrentes de alteração funcional no órgão do equilíbrio, chamado labirinto. Diversas causas podem gerar estes sintomas, e para cada caso existe um diferente tipo de tratamento. Evitar o abuso de café e estimulantes em geral, álcool, açúcares e gorduras costuma auxiliar o tratamento. Combater o stress e ansiedade sempre será bem-vindo. Cabe ao otorrinolaringologista diferenciar o tipo de labirintopatia para propor o melhor tratamento. Geralmente o tratamento é baseado em medicamentos, o qual muitas vezes leva a melhora total.
6. A voz muda conforme ocorre o envelhecimento.
VERDADE – A presbifonia é o envelhecimento natural da voz. A qualidade vocal depende de alguns fatores como do ar proveniente dos pulmões, das pregas vocais, da ressonância cervical e facial e da musculatura da laringe, entre outros. Como no processo de envelhecimento ocorre perda de massa muscular, diminuição da capacidade pulmonar e envelhecimento das pregas vocais, pode ocorrer a mudança no padrão vocal no idoso. A laringoscopia direta é um exame importante no diagnóstico e a fonoterapia assim como medidas dietéticas e hidratação, podem auxiliar nestes casos.
7. O zumbido não tem cura.
MITO – Existem diversas causas que podem desencadear o zumbido, este barulho incômodo que se origina sem fonte sonora externa. Dentre as causas podemos citar acúmulo de cerume, abuso de cafeína, perda auditiva, alteração do metabolismo de gorduras e açúcares, depressão e alterações cardiovasculares, entre outras. O entendimento do zumbido e as formas de tratamento tem sido temas frequentes nos Congressos Nacionais e Internacionais. Cabe ao médico otorrinolaringologista investigar a causa para discutir e propor o melhor tratamento existente.
8. Usar gotinhas com descongestionante nasal pode causar danos à saúde do bebê / criança
VERDADE – Os descongestionantes nasais tem uma ação semelhante a da adrenalina. Este fármaco atua contraindo os vasos sanguíneos e aumentado o espaço para circulação de ar no nariz, momentaneamente. Com o tempo de uso é necessário que a dose seja cada vez maior como se o nariz “acostumasse” com a medicação. Isso causa um tipo de alteração nasal chamada rinite medicamentosa. Ela se caracteriza pela inflamação do nariz gerando “dependência” da mucosa nasal pelo uso do vasoconstritor. Devido seu uso, podem ocorrer alterações graves como perfuração do septo nasal, aumento dos níveis de pressão arterial e arritmias entre outros.
9. Sangramento pelo nariz da criança é sinal de doença grave.
MITO – O nariz tem uma grande e complexa irrigação sanguínea. O ressecamento da mucosa nasal, pequenas inflamações locais e a manipulação frequente são os grandes causadores destes sangramentos nas crianças. Chamamos esta hemorragia nasal de epistaxe. Em alguns casos, menos frequentemente, o sangramento pode acontecer devido introdução de corpo estranho, rinites / sinusites e até mesmo pela presença de tumores. Sempre que houver uma epistaxe é recomendado a visita ao otorrinolaringologista.